Por Claudia Meyer, Diretora-Presidente do Instituto Autismo & Vida
No momento em que assumo a presidência do Instituto Autismo &
Vida, cargo de muita responsabilidade e que muito me honra, quero me dirigir
aos nossos sócios, colaboradores e a todos aqueles que nos acompanham.
Um novo ciclo começa para todos nós. E no momento que a nova
diretoria assume, tomando a direção, é preciso reconhecer que não partimos do
zero.
Nos últimos dois anos, a diretoria que agora encerra seu ciclo
construiu uma sólida base, de identidade do Instituto Autismo & Vida,
tocando a vida dos familiares das pessoas com autismo, aproximando os problemas
das soluções, colocando o autismo em pauta em toda Região
Metropolitana.
Essa diretoria, nossa primeira diretoria, será sempre precursora
de todas as ações que vierem a ser articuladas pelo nosso Instituto; serão
esses sócios sempre credores de reconhecimento e gratidão, pelo sério e
consistente trabalho que realizaram.
Por isso, antes de qualquer outra providência, nosso primeiro ato
é agradecer, muito especialmente ao Marcelo, e também à Josie, à Heloísa, à
Paula e à Cris (Fausta), por terem nos dado o rumo, por nos conduzirem no
cumprimento de nossa missão institucional; o Airto continua com seu (en)cargo.
Belo trabalho!
A experiência de vocês será nosso manual, que vai nos orientar
quando tivermos dúvida; e lembramos sempre que, acima dos cargos, está nosso
compromisso com a conscientização sobre o autismo, sempre presente em nossos
atos.
Que sigamos juntos nessa luta!
Também quero falar do futuro.
Vivemos uma época de grandes transformações: mês passado mesmo,
voltamos às ruas, (re)tomando o espaço público, protestando, manifestando,
usando a voz, dando sentido às palavras. Não há mais lugar para decisões
tomadas no recinto fechado dos gabinetes dos burocratas, nem nos sofisticados
salões dos privilegiados. Reconhecemos e manifestamos que todos temos voz e
vez.
Certamente que é nesta mesma época e neste mesmo mundo que nós,
pessoas com autismo e seus familiares, estamos inseridos. Adequadamente ou não,
com perfeição, mais ou menos, de um jeito meio torto, mas inseridos. Porque o
mundo é o mesmo para todos, pais e filhos, pessoas com autismo e neurotípicos,
adeptos do zen-budismo e nazi-fascistas (se é que ainda os há). E nesse mundo
plural de realidade impermanente é que nos cabe atuar e construir, na diversidade,
o espaço de convivência de todas as tribos.
Sou mulher, sou mãe, sou trabalhadora; sou apenas mais uma. Paro e
penso: poderia dizer que vamos acolher todas as dores, que são as nossas dores
(do preconceito, do desentendimento, da exclusão, até da falta de comunicação);
poderia dizer que vamos cuidar de todos que, como nós, sofrem com as limitações
do autismo e sorriem com as superações das pessoas com autismo.
Mas não se trata disso. Neste lugar, não quero ser como a mãe
(autoridade), senão como a irmã (amiga). Porque mãe é uma só, e irmãos podem
ser muitos. Podem ser parceiros que se dêem as mãos.
É isso, então. É a ideia das mãos. Mãos que amparam, mãos que
ajudam a levantar, mãos que, mesmo de longe, acenam e trazem alento. Mãos no
contexto da fraternidade e da solidariedade.
Por tudo isso, escolho dizer que vamos cuidar do espaço do sonho;
que vamos celebrar, juntos, a nossa natureza de perseverança, o nosso tempo
particular de observação e construção de pontes. Pontes para entender as expressões
de nossos filhos, pontes para estabelecer essa comunicação que os liberta e que
nos salva; pontes para melhorar a qualidade da nossa inserção no mundo.
Nesta nossa caminhada, na espantosa vida de quem convive com o
autismo diariamente, sem tréguas, inundados de amor, estamos todos irmanados.
Todos podemos dar e pedir apoio. Todos sabemos algo que ajuda o outro. E
precisamos uns dos outros.
Não fizemos (com as nossas mãos) o Instituto Autismo & Vida
para cuidar, somente. Construímos um espaço onde dividimos. Proponho usarmos as
mãos: podemos usá-las para apertarmos as mãos uns dos outros, podemos usá-las
para aplaudir vitórias e conquistas dos nossos queridos, podemos usá-las para
ajudar a um de nós, que tenha caído, a levantar-se, e seguir caminhando junto.
As mãos, sozinhas, não servirão para carregar ninguém, mas para caminharmos
juntos. O apoio de todos para todos é horizontal, fraterno, solidário e
libertador.
Viva as mãos - as nossas mãos -, que juntas vêm construindo um lar,
que é o Instituto Autismo & Vida! Mãos que afagam, mãos que apóiam, mãos
que consolam e, fundamentalmente, mãos que conquistam. Coloquemos nas mãos
nossos corações e mentes, levando nossa emoção e nossa razão, concretamente,
estendidos entre nós e além.
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