Receber o diagnóstico de autismo é provavelmente uma situação delicada para qualquer família, mesmo que acompanhado do alívio que pode representar o esclarecimento de uma dúvida ou a confirmação de uma suspeita. De imediato está indicado o início do tratamento, na expectativa de quanto mais brevemente for instituído, melhores serão as perspectivas futuras. Então uma nova ansiedade se apresenta em meio a um número muito maior de perguntas do que de respostas: o que fazer? Que tipo de terapia escolher? Quem são os especialistas no assunto?
As abordagens terapêuticas deverão ser selecionadas conforme as necessidades emergentes daquela criança, na busca do desenvolvimento de suas habilidades em déficit: melhora na comunicação, na interação social, no processamento sensorial, em habilidades motoras ou no manejo de comportamentos repetitivos e/ou desadaptativos.
As possibilidades de abordagens são muitas, algumas com evidência científica de eficácia, outras não.
Os tratamentos medicamentosos disponíveis não são específicos para autismo, quando indicados, buscam apenas o controle de sintomas que comprometam mais significativamente a vida do indivíduo ou o tratamento de comorbidades (outro quadro, como depressão ou ansiedade, por exemplo, que aconteça sobreposto ao autismo).
Diante de tantas possibilidades, sérias ou não, convencionais ou alternativas de tratamento, é comum o sentimento de estarmos fazendo pouco por nossos filhos ou a sensação de que poderíamos oferecer algo a mais. Esse “algo a mais”, muitas vezes não se trata apenas de coisa inócua ou ineficaz, mas pode implicar em danos, por vezes graves e permanentes à saúde.
Considerando a situação de fragilidade emocional em que as famílias se encontram na hora do diagnóstico ou mesmo posteriormente diante da eventual dificuldade de obter resultados satisfatórios com o tratamento instituído, não é incomum que os pais recorram a promessas de cura ou tratamentos milagrosos, e por isso nosso alerta. Ainda que seja extremamente triste, não faltam aproveitadores de plantão a vender falsas esperanças aos leigos e emocionalmente vulneráveis.
Os Transtornos do Espectro do Autismo vem sendo amplamente estudados por inúmeros grupos científicos mundo afora. Quando um tratamento altamente eficaz, ou eventual “cura” do transtorno ocorrer, isso sem dúvida será motivo de comoção na comunidade científica e estará amplamente divulgado não apenas em periódicos de especialidades, ou nas redes sociais, mas na imprensa leiga como um todo, nas principais manchetes mundiais.
Nossos estressores diários já nos são suficientes, o gasto material, de energia e de tempo não são pequenos, nossos filhos,em menor ou maior grau, tem dificuldades o bastante, sejamos cautelosos com nossas escolhas e não busquemos novos e maiores problemas do que os que naturalmente se apresentam. Temos muito a fazer pelas pessoas com autismo, o caminho não é curto, mas as conquistas são possíveis, aos que se dispõem com afeto, dedicação e seriedade através de metodologias amplamente estudadas e utilizadas na maior parte das vezes em conjunto.
Luciana Bridi
Médica Psiquiatra e Sócio-voluntária do Autismo & Vida
Mãe de Lucas, de 7 anos e neurotípico, e Pedro, de 4 anos que tem autismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário